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julho 28, 2008

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Racionais em Teresina... Umas observações!
Por Elton de Aquino Arruda

Estive no show de rap da banda paulista Racionais MC´s. Foi uma oportunidade impar, pois muito embora sempre tenha andado em todos os lugares, do shopping até a quebrada mais cabulosa, me surpreendi com alguns aspectos da epopéia.
Em primeiro lugar fui com um camarada relativamente integrado ao movimento hip-hop no Piauí, ficamos trocando idéias na porta do show até entrar e observava uma certa pluralidade de público, mas muito tacanha, pois os presentes eram mesmo da periferia. Uns com cara de rockeiros e outros com cara de rappers. o visual era mesmo o de “gangstar”, um estilo dentro dos desdobramentos do rap. Achei muito americanizado os uniformes pra curtir um som, esse exibido pela periferia piauiense. Mas logo na entrada percebi que imperava um ambiente de muita paz.
Em segundo lugar, ao entrar e durante todo a noite observei que quase não havia menores. Isso foi o que me chamou mais atenção, porque se estivesse no Piauí pop ou numa micareta certamente estaria lotado de menores bebendo e cheirando loló. Porra! O lugar era mais civilizado do que 90% dos ambientes onde as pessoas dizem consumir arte e cultura, especialmente shows musicais. Isso de certo tem relação com o ambiente de respeito entre as pessoas que lá estavam.
Em terceiro lugar encontrei dois caras que lavam meu carro e o de muitas outras pessoas lá na Av. Maranhão. Interessante, chamaram-me de “truta e camarada” e trocamos apertos de mãos. Bom essa parte foi estranha porque o aperto de mãos “dos trutas” é definitivamente um balé complexo e indecifrável. Aproveitei a oportunidade e perguntei de onde eles eram e disseram ser de Timon, foi quando provoquei para sentir o clima do local: “vocês devem estar mesmo se garantindo, pra vim curtir longe de casa assim...”. Eles afirmaram “ tô nem aí pro setor, vamu curtir o som e sair fora pra amanhã trabalhar”. Beleza! Vejam a onda: se eu estivesse em determinados lugares não marginalizados provavelmente tinha um monte de valentões e bêbados otários com os nervos à flor da pele.
Em quarto lugar ficou claro que o movimento ainda é muito masculinizado. Não somente pelos timbres de voz e as danças que exigem profundo esforço físico, as mulheres eram artigo escasso no local. Paciência, nem tudo é perfeito.
Fui pra casa antes do show principal acabar. Estava realmente cansado e não sou mesmo de curtir festas e multidões, mas saí sem alteração depois de aproveitar um bom show, um ambiente sadio e de trocar idéias interessantes com uma pá de gente boa. Foi uma oportunidade de observar mais que uma festa, mas como arte comprometida com as questões sociais faz bem as pessoas.
Peço desculpas pelas gírias e palavrões, acho que ainda estou influenciado, mas estou declaradamente aliado ao movimento hip-hop. Na qualidade de professor, com meu 34 anos, daqui da minha “vidinha organizada”, posso dizer que para melhorar a vida nas periferias a saída é 100% hip-hop na veia.

Elton de Aquino Arruda é professor de geografia em Teresina, Piauí. Mantem o blog http://eltonarruda.blogspot.com/

Posted by Sandino at julho 28, 2008 08:25 PM

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