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novembro 04, 2009

Morre aos 100 anos o antropólogo Claude Lévi-Strauss

O antropólogo Claude Lévi-Strauss, um dos intelectuais mais importantes do século 20, morreu no sábado passado aos 100 anos, informou hoje a editora Plon. Ele sofria de Mal de Parkinson. Lévi-Strauss influenciou de maneira decisiva a filosofia, a sociologia, a história e a teoria da literatura.
O intelectual nasceu em Bruxelas em 28 de novembro de 1908, de pais judeus e franceses. Estudou direito e filosofia na Universidade de Sorbonne, na França. Nos últimos anos, Lévi-Strauss viveu recolhido no apartamento que morou nos últimos 50 anos em Paris e recebia poucos amigos.
Lévi-Strauss iniciou seu grande projeto intelectual em 1934, quando foi convidado pela recém-fundada USP (Universidade de São Paulo) para lecionar sociologia.
O antropólogo viveu durante três anos no Brasil e fez várias excursões para o Centro-Oeste e o Norte do país e, em contato com índios cadiuéus, bororos e nambiquaras, começou a esboçar as bases do estruturalismo, corrente que revolucionaria a antropologia em meados do século 20.
As várias missões etnológicas e as experiências em Mato Grosso e na Amazônia foram contadas em seu terceiro livro, "Tristes Trópicos" (1955), também considerado uma espécie de autobiografia intelectual. As obras fundamentais foram lançadas bem depois de sua curta temporada no Brasil.
De volta a Paris, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, foi convocado para combater em 1939, mas deu baixa por causa da origem judia.
Em 1941, se refugiou nos Estados Unidos, dando aulas em Nova York, onde conheceu o linguista Roman Jakobson, que teve uma grande influência sobre seu pensamento.
Lévi-Strauss notabilizou-se também por sua atenção entre as relações entre a cozinha e a cultura. Na obra "Mitológicas" (1964-71), ele ilustra a oposição entre a natureza e a cultura, utilizando as noções de alimentos crus e cozidos, frescos e podres, molhados e queimados, por exemplo. Com isso, seria possível alcançar generalizações sobre o pensamento humano.
Para a maior parte do meio acadêmico brasileiro, a influência de Lévi-Strauss se deu bem depois de sua partida da USP. O etnólogo alcançou notoriedade entre os antropólogos brasileiros entre os anos 50 e 80, principalmente.

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O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, foi um dos fundadores da USP (Universidade de São Paulo)

Posted by Sandino at novembro 4, 2009 09:00 PM

Comments

Ele marcou não só a antropologia como todas as ciências humanas. Se hoje a antropologia brasileira é de ponta, foi porque soube absorver a obra dele. Lévi-Strauss deve aos índios brasileiros a inspiração para elaborar sua teoria, e nós lhe devemos a oportunidade que tivemos de canibalizar e digerir sua produção. Ele deu para a antropologia uma contribuição absolutamente original, mas transcendia isso. Uma coisa é o estruturalismo como moda, outra são os efeitos a longo prazo de Lévi-Strauss, cuja obra continua sólida, rica. Foi sobretudo um pensador que refletiu sobre a condição humana.A morte deve possibilitar uma releitura de sua obra no século 21. Ela teve muita leitura nos anos 60, 70, no auge do estruturalismo, e, após muita crítica, nos últimos dez anos começou-se a repensá-la a partir de outras questões. Sem dúvida, continuará a ser lida nos próximos cem anos. No campo da cultura e da diversidade cultural, ele escreveu em 1952 sobre uma ideia que ainda hoje é revolucionária. Ele dizia que o importante não é preservar o fato cultural em si, o patrimônio, porque isso cria camisa de força, imobiliza, e sim conservar as condições que deram origem à diversidade. Lévi-Strauss foi um apaixonado pelo Brasil, alguém que refundou, com seu ensaísmo, a literatura dos viajantes que formava o imaginário sobre o nosso território e nossas populações, fazendo com que aspectos da nossa cultura passassem a ser enxergados com olhos de investigação para os sistemas universitários, deixando uma escola de pensamento e pesquisa. De vez em quando surgem estrelas que brilham, sobretudo porque trazem algo de radicalmente novo. Mas ele trouxe uma maneira original de conceber o mundo e de conceber a análise do mundo. Essa visão de uma forma universal do pensamento humano faz dele único.
Paula Lins – antropóloga

Posted by: Paula at novembro 4, 2009 09:38 PM

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